Como o próprio nome diz, a Comunicação Não-Violenta (CNV) é uma prática que tem como foco habilidades de comunicação verbal e não-verbal que gerem maior conexão e empatia, e menos atritos entre as pessoas.

Atitudes nesse sentido são fundamentais para um bom relacionamento interpessoal, seja na vida profissional, seja na vida pessoal. Essa é, inclusive, uma soft skill bastante valorizada pelas empresas, uma vez que pessoas que a praticam têm maiores chances de trabalharem bem em equipe e promover um clima organizacional saudável.

Neste artigo, vamos explicar tudo o que você precisa saber sobre o que é a Comunicação Não-Violenta, como ela surgiu, quais são seus componentes e por que ela é tão importante no ambiente de trabalho. Em seguida, você vai conferir um passo a passo para aplicá-la na equipe, entender qual é o papel das lideranças nesse assunto e ver alguns exemplos de Comunicação Não-Violenta. Vamos lá?

O que é a Comunicação Não-Violenta (CNV)?

A Comunicação Não-Violenta é uma prática de habilidades de linguagem e comunicação — verbal (escrita ou falada) e não-verbal (gestos, expressões, códigos) — baseadas na aplicação da compaixão e da empatia em qualquer contexto.

Pela ausência da resistência e da postura defensiva, a CNV diz sobre uma comunicação mais consciente, cuidadosa e articulada. E, por comunicação, entende-se um processo bilateral (ou plurilateral) o que significa que a CNV pode (e deve) ser praticada tanto pelo emissor de uma mensagem, quanto pelo receptor.

No entanto, segundo o conceito, não é necessário que a pessoa com quem nos comunicamos saiba que estamos usando dessa prática. A ideia é que, se aplicada da maneira correta, promoverá uma espécie de ciclo positivo de trocas não-violentas.

Como surgiu a CNV?

Tendo crescido no centro-oeste dos Estados em meio a muita violência, intolerância e conflitos culturais e raciais, Marshall Rosenberg buscou um novo olhar sobre a comunicação e a linguagem.

Por acreditar no poder da compaixão e da empatia, sistematizou a expressão Comunicação Não-Violenta na década de 60, sob inspiração nos ideais e na atuação de Ghandi e Marting Luther King.

Apesar dos conflitos que presenciou desde criança, Marshall acreditava que é possível haver compaixão mesmo em condições adversas. Não à toa, em 1960, criou o Centro de Comunicação Não-Violenta, uma organização que tem como propósito espalhar o conceito, os componentes e as práticas de uma comunicação mais harmônica.

O sucesso da técnica se consolidou com o tempo, a partir da aplicação dos preceitos e das interações entre diferentes pessoas e, inclusive, na mediação de conflitos.

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Quais são os 4 componentes da Comunicação Não-Violenta?

Apesar de, à primeira vista, aparentar ser uma expressão genérica, a Comunicação Não-Violenta pregada por Marshall tem 4 principais componentes para se concretizar, conforme explicitaremos a seguir.

Observação

O primeiro passo para uma Comunicação Não-Violenta, segundo a teoria, é, de fato, olhar para a situação imposta. Para isso, defende-se a importância de ter uma visão neutra e livre de juízos de valor sobre aquilo, de forma a não fazer pré-julgamentos. A partir disso, será possível entender o que agrada e o que desagrada naquela circunstância.

Sentimento

O próximo passo é aprofundar-se no sentimento causado pela situação observada. Nesse momento é importante permitir que a vulnerabilidade se faça presente e buscar nomear o que estamos sentido: se é angustia, medo, irritação etc.

Necessidades

Compreendido o sentimento diante da stiuação, é preciso compreender quais são as nossas necessidades que estão conectadas com aquele sentimento e que ele faz aflorar. Esse é um dos fatores capazes de gerar a empatia e a compaixão entre as pessoas, a partir do momento que podem entender a fundo a carência umas das outras.

Pedido

A partir das conexões geradas pelo componente das necessidades, é como se houvesse um respaldo para um pedido, que deve ser feito de forma positiva. Ainda, é importante que ele seja objetivo e afirmativo.

Por que atentar para a Comunicação Não-Violenta?

O relacionamento interpessoal está intrinsecamente ligado à vida em sociedade. Seja nas relações pessoais, seja nas situações profissionais, a comunicação é o meio pelo qual há troca de informações.

Quando a comunicação é violenta, são grandes chances de que essa troca de informações não se concretize e de que haja conflitos, pela falta de compreensão por ambas partes. Isso aplicado ao contexto das empresas, por exemplo, faz com que haja obstáculos em termos de resolução de problemas, trabalho em equipe, clima e desenvolvimento organizacionais.

Não à toa, a capacidade de estabelecer uma Comunicação Não-Violenta é uma das soft skills valorizadas pelas empresas. Por meio dela, é possível ter um clima organizacional mais saudável e respeitoso, profissionais empáticos e colaborativos entre si, melhor troca de feedbacks, além da redução de conflitos por meio da mediação.

É importante ressaltar que Comunicação Não-Violenta não é o mesmo que ausência de debates. Quando feitos considerando os 4 componentes mencionados, eles proporcionam maior sinergia entre as pessoas colaboradoras — em que cada uma tem abertura para expor sua opinião e experiências —, além de inspirar a todos para que tenham interações pacíficas.

Passo a passo para usar a CNV na equipe

Apesar de a teoria da Comunicação Não-Violenta ser interessante, podem surgir algumas dúvidas quando o assunto é implementá-la na empresa. Abaixo, você pode conferir um passo a passo sobre como usar e incentivar a CNV na equipe.

Estimule o diálogo

A falta de diálogo dificulta o relacionamento entre colegas de trabalho, comprometendo o clima organizacional e o andamento das demandas diárias. Por isso, primeiramente, busque estimular o diálogo e a troca de ideias entre as pessoas colaboradoras.

Aqui, falamos não apenas de diálogos que envolvam assuntos profissionais, mas até mesmo as conversas mais informais. Elas são importantíssimas para criar vínculos entre os indíviduos.

Apresente e reforce o conceito

Para implementar a Comunicação Não-Violenta é preciso, de fato, apresentá-la para as pessoas da empresa. Mostrar seu conceito, sua importância e os componentes que contribuem para uma comunicação mais pacífica faz com que as pessoas, acima de tudo, reflitam mais sobre a forma como têm se relacionado no dia a dia da empresa.

Mais do que apenas apresentar, não deixe também de reforçar essa prática. Isso pode ser feito por meio de comunicados, lembretes e até mesmo nas próprias interações. Com o tempo, é provável que esse tipo de comportamento se torne mais orgânico.

Incentive feedbacks e elogios

Feedbacks, elogios e Comunicação Não-Violenta têm tudo a ver! Promover uma cultura de feedbacks faz com que não apenas o relacionamento entre as pessoas colaboradoras seja melhor, como também mantém o profissional mais motivado e engajado com a empresa.

Quanto aos elogios, eles são excelentes para o desenvolvimento das pessoas. Uma pesquisa mostrou que 78% das pessoas afirmam que o reconhecimento as deixa mais motivadas para realizarem seus trabalhos. Não à toa, outra pesquisa evidenciou que 70% das multinacionais têm investido em ferramentas que facilitam a troca de feedbacks.

Conscientize as lideranças

Quando falamos em cultura e clima organizacionais, as lideranças têm papel fundamental nisso, uma vez que são o exemplo mais próximo o qual as pessoas colaboradoras buscam seguir.

Dessa maneira, em termo de Comunicação Não-Violenta, as lideranças podem ser importantes aliadas para maior compaixão e empatia entre os profissionais. Por isso é fundamental conscientizá-las sobre o tema e incentivá-las a disseminá-lo em seus times.

Um ótimo começo para isso é implementar rotinas de reuniões de one-on-ones em que há uma escuta ativa da pessoa colaboradora. Da mesma forma, é preciso incentivar a troca de feedbacks tanto de liderança para pessoa liderada, quanto vice-versa. Mais do que a troca, não deixe também de explicar como dar insights praticando a Comunicação Não-Violenta.

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Desencoraje comparação e competição

Toda comparação carrega consigo um julgamento. E isso vai de encontro a um dos componentes da CNV: o sentimento. Uma vez que ele deve ser o mais neutro possível, promover comparações é uma forma de dificultar a prática da Comunicação Não-Violenta.

Mais do que isso, comparação leva a competição. E um ambiente de trabalho em que as pessoas colaboradoras competem de foma exagerada certamente não contará com empatia em sua forma mais límpida.

Comunicação Não-Violenta: 4 exemplos

Confira a seguir alguns exemplos da aplicação da Comunicação Não-Violenta no contexto organizacional.

1. Em um feedback sobre o comportamento de uma pessoa da equipe, a liderança poderia exercitar a Comunicação Não-Violenta da seguinte maneira:

  • Observação: “Na última reunião que fizemos com o cliente, eu percebi que você mexia no celular a todo momento e acredito que o cliente também tenha percebido";
  • Sentimento: “Isso pode passar a impressão de desinteresse com o assunto e com o projeto”;
  • Necessidade: “Precisamos garantir que o cliente sinta que nos empenhamos em seu projeto, na nossa empresa”;
  • Pedido: “Sugiro que você deixe o celular na mochila ou, se estiver esperando alguma mensagem muito importante, avise logo no início da reunião que precisará consultar o celular devido a uma emergência. Faz sentido? Tem algo mais que você acredita que possa ser feito nessa ocasião? Conte comigo se quiser conversar mais sobre o tema”.

2. Em uma troca de e-mails em que houve um mal entendido entre uma pessoa e sua colega de trabalho, é possível promover a Comunicação Não-Violenta:

  • Observação: “Em seu último e-mail sobre o projeto que estamos tocando, foi abordado o atraso das entregas de maneira geral, o que aconteceu quando ficamos sem uma pessoa na equipe por questões de saúde”;
  • Sentimento: “Isso me chateou, pois não foi explicado de maneira aprofundada para as pessoa em cópia os motivos que levaram a isso”;
  • Necessidade: “Preciso sentir que trabalhamos em equipe e que mais do que focarmos nos erros, que possamos trabalhar todos juntos para superá-los”;
  • Pedido: “Quando acontecer isso, sugiro que deixemos todos à par de que se tratou de uma situação isolada e que, em vez de enfatizar o problema, a gente possa dar um prazo mais viável possível para que aquela entrega seja feita”.

3. No caso em que foi constatada falta de engajamento de uma pessoa colaboradora, sua liderança pode ter a seguinte abordagem:

  • Observação: “Percebi que houve um atraso nas suas entregas do mês passado e, além disso, você não tem comparecido a algumas reuniões”;
  • Sentimento: “Isso causa na equipe a impressão de que você não está engajado com o trabalho e com a empresa”;
  • Necessidade: “Suas atividades são muito importantes para o bom andamento das demandas e da equipe como um todo”;
  • Pedido: “Que tal compartilhar comigo se está acontecendo algo que está afetando sua produtividade ou seu engajamento no trabalho?”.

4. Quando há um caso de feedback negativo dado na frente de outras pessoas:

  • Observação: “Na última reunião, na qual apresentei meu projeto, você me deu um feedback importante para o meu desenvolvimento no que se referia à minha desenvoltura na apresentação”;
  • Sentimento: “Fiquei feliz em receber um feedback que ajudará no meu crescimento, porém fiquei chateado com que isso tenha acontecido na frente de outras pessoas do time”;
  • Necessidade: “É importante que feedbacks negativos sejam dados em particular, para evitar constrangimentos”;
  • Pedido: “Da próxima vez, gostaria que me chamasse em um canto para conversarmos, pode ser?”.

Bom, como vimos, a convivência pacífica e até mesmo o bom andamento das atividades da empresa dependem de uma comunicação adequada. Por isso, é preciso trabalhar no sentido de treinar e conscientizar as pessoas da importância de praticarem uma Comunicação Não-Violenta na organização. Isso contribui para um bom clima e colabora para a cultura organizacional.

E, agora que passamos pelos principais pontos da Comunicação Não-Violenta, que tal aprofundarmos e entendermos mais sobre feedbacks? Confira nosso guia completo e gratuito sobre o assunto!