“Quando me perguntam o que foi importante na minha carreira, sempre respondo que foram feedbacks duros e construtivos" - Carlos Brito, CEO, AB InBev
Feedbacks construtivos são uma ferramenta extremamente poderosa de desenvolvimento pessoal e profissional: eles nos permitem acessar "pontos cegos" do nosso comportamento - nossas ações que têm impactos os quais não previmos - nos fazem refletir e nos trazem auto-conhecimento. Além disso, servem de inspiração para nossos planos de desenvolvimento: nosso caminho para sermos melhores versões de nós mesmos.
No entanto, receber feedbacks duros - críticas - pode ser muito difícil. Neste artigo, exploramos algumas das razões que fazem com que receber um feedback construtivo seja algo tão desconfortável para nós seres humanos, algumas dicas de como você pode se preparar para se tornar um mestre em receber feedbacks e o mais importante de tudo, melhorar com eles.
O fator biológico
O cérebro humano possui mecanismos de defesa extremamente apurados. Eles são herança dos nossos ancestrais que viviam em selvas e savanas e se defendiam das mais diversas ameaças à sua vida. Nessa época, nossos parentes distantes mais "noiados" tinham uma vantagem competitiva, e foram sendo selecionados através do processo de seleção natural.
Pense comigo: se dois hominídeos dessem de cara com um leão no meio da selva, quem sobreviveria? Aquele que por instinto saiu correndo sem olhar para trás, ou o outro que ficou pensando para saber se realmente aquele leão era uma ameaça? Fácil. Por isso, somos condicionados a responder a ameaças automaticamente.
O que acontece no caso dos feedbacks é que quando recebemos uma "crítica" nosso cérebro interpreta-a como uma ameaça à nossa sobrevivência. A crítica abala nossa autoestima e consequentemente tememos não ser bons o suficiente para fazermos parte do nosso meio social. Aí entramos em estado de alerta biológico: batimentos cardíacos acelerados e respiração mais curta. Você sabe bem do que estou falando!
A base científica do assunto é sólida: no seu livro Your Brain at Work, David Rock expõe uma das descobertas de suas pesquisas: as mesma conexões neurais utilizadas para processar necessidades sociais são utilizadas para processar necessidades de sobrevivência. De outra forma: se sentimos fome ou rejeitados da nossa "tribo", experimentamos a mesma sensação de ameaça. E o que é rejeição, se não ser excluído da "tribo" que escolhemos?
O fator psicológico
Todos nós queremos pertencer, sermos amados e admirados. No entanto, receber um feedback construtivo significa intuitivamente o oposto disso. De maneira análoga ao fator biológico, psicologicamente também nos sentimos atacados de algumas maneiras diferentes quando recebemos uma "crítica".
- Nós confundimos comportamentos com identidade: Nossa defensividade está ligada ao fato de termos nossa identidade abalada ao recebermos um feedback. Acreditamos irracionalmente que "somos" aquele feedback, e não que "estamos" aquele feedback;
- Tendemos a acreditar que algo é 100% verdade pela forma que nos sentimos no momento (o "raciocínio emocional"). Isto é, se estamos tendo um dia ruim tendemos a achar que somos ruins;
- Pensamos em termos de "tudo ou nada": Tendemos a polarizar as situações, tornando elas completamente boas ou completamente ruins;
- "Catastrofizamos": Tendemos a exagerar o tamanho, escopo, magnitude e importância de um evento, pensamento ou sensação que nos afeta.
Vimos, portanto, que há uma bandeja cheia de fatores biológicos e psicológicos que afetam a forma com que absorvemos e agimos com feedbacks críticos/construtivos.
Agora vamos ao mais importante: como melhorarmos nessa arte.
Algumas dicas de como tirar o máximo dos feedbacks recebidos
Escute ativamente:
Se estiver recebendo um feedback pessoalmente mantenha sua linguagem corporal aberta (descruze braços e pernas), mantenha contato visual, faça perguntas para clarear seu entendimento e para que não haja nenhum mal entendido. Também ajuda tentar resumir o que você entendeu.
Apenas tome cuidado com as perguntas esclarecedoras, já que a tendência é que elas se tornem um instinto de defesa. Mesmo que a mensagem não seja nem justa nem verdadeira, sua defensividade pode passar a impressão de que você não é receptivo e bloquear futuros feedbacks. E você não quer ficar marcado como "uncoachable", certo?
Dê tempo ao tempo, e reflita:
Da mesma forma com a qual você não deve rejeitar de imediato também não deve aceitar prontamente o feedback que lhe é dado.
Aceite suas emoções negativas:
É natural se sentir chateado quando recebemos um feedback negativo. Ao invés de reprimir essas emoções de raiva, ansiedade e orgulho ferido deixe-nas apaziguar-se antes de seguir adiante. Uma boa tática é sair para dar uma volta e espairecer.Assuma o controle do seu desenvolvimento: Sempre que receber um feedback foque nas oportunidades de corrigir ou melhorar determinado comportamento ou competência.
Se você se tornou uma pessoas melhor tanto pessoalmente como profissionalmente, feche o loop:
Retorne o seu aprendizado ao emissor do feedback e deixe-o sabendo o que você fez e como aquele feedback teve impacto no seu desenvolvimento.
Quando você estiver tendo muita dificuldade em aceitar um feedback, tente pegar um pedaço de papel e divida-o em duas colunas.
Na coluna da esquerda liste o que há de errado com o feedback recebido, podendo ser: a mensagem não é verdadeira; não é justa; foi dada em um momento inapropriado; os motivos para tal feedback são suspeitos; a pessoa estava emocionalmente enviesada no momento do feedback; ou emissor não teve nenhum tipo de cuidado e habilidade. Já na coluna da direita, liste tudo que você acredita estar certo no feedback recebido. Esta prática é importante, pois temos a tendência a invalidar toda a mensagem quando encontramos algo no qual não concordamos e que nos desagrada. Mesmo que 99% da mensagem esteja errada há grande chance daquele 1% ser exatamente aquilo que você precisava ouvir.
Não discuta, apenas agradeça!
Mantenha-se sempre curioso e aberto, sem perder o senso crítico e sua perspectiva.
É importante não inclinarmos para nenhum dos lados. Se colocar em uma posição de abertura que ao mesmo tempo é sustentada por um papel ativo e engajado é o segredo para receber feedbacks. Quando você se engaja com o processo você pode decidir se o feedback não faz sentido, é injusto, não condiz com que você é ou simplesmente não é o que você precisa no momento.
Cultive seu Growth Mindset:
As pessoas que focam no seu crescimento e desenvolvimento vem feedbacks como uma oportunidade de melhoria e tiram maior proveito destas mensagens.
Lembre-se: apenas você tem o poder de decidir o que fazer com o feedback.
"Perception is all there is" - Tom PetersQuando nos permitimos enxergar através das perspectivas de outras pessoas, entendemos como nossas ações são interpretadas pelo ambiente à nossa volta. Isso não só aumenta o conhecimento que temos de nós mesmos, como nos aproxima das pessoas com as quais convivemos através da empatia e da compaixão.
Aprender a administrar estas trocas nos permite expandir nossos horizontes e readquirir perspectivas mais rapidamente quando somos inundados por dúvidas e inseguranças. Desenvolvendo esta resiliência somos capazes de receber feedbacks construtivos com mais abertura e menos defensividade, criando um Growth Mindset e construindo um ambiente de suporte e transparência. Quem sai ganhando? TODO MUNDO!
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