De acordo com dados da McKinsey & Company, dificuldade de avanço na carreira, pouca valorização de trabalho e cultura insatisfatória foram os principais motivadores para as lideranças femininas decidirem abandonar um emprego em 2022. Entretanto, muito além desses motivos, existem alguns comportamentos rotineiros que corroboram para tornar esses problemas mais agravantes no contexto corporativo.
Embora a representatividade feminina seja um assunto constantemente discutido nas diversas áreas de uma organização, quem atua em Recursos Humanos tem uma parte fundamental em torná-lo real. Afinal de contas, esses profissionais são responsáveis pela contratação e capacitação de mais mulheres, além de tornar o ambiente mais diverso com a implementação de campanhas que reduzam a ocorrência de microagressões misóginas, por exemplo.
Em pleno mês da mulher, Deborah Gouveia Abi-Saber, head de Cultura, Liderança e Performance do Nubank, nos concedeu uma entrevista exclusiva e trouxe alguns insights sobre a sua jornada como líder na área de RH.
Atuando há mais de quatro anos no Nubank, Deborah assumiu diversas frentes na startup antes de alcançar o cargo de liderança, em que se mantém ativa há nove meses. A gestora comentou sobre os principais desafios enfrentados pelas mulheres no ambiente corporativo, a importância da representatividade e o impacto da licença maternidade na própria carreira, como atual gestante. Confira a entrevista!
Entrevista
Hoje, quais você acredita que são os principais desafios enfrentados pela liderança feminina no Brasil?
Na minha perspectiva, um dos principais desafios da liderança feminina é a questão da representatividade. Ainda é muito comum que, em níveis mais seniores de algumas empresas, tenhamos uma parcela bem maior de homens do que de mulheres. Isso impacta em tudo: como pensamos em produtos, como realizamos as discussões, como consideramos perspectivas diferentes, etc. A mudança desse cenário está acontecendo, mas ainda tem um caminho a percorrer até uma paridade nos cargos ocupados por homens e mulheres.
Dentro da sua área de atuação, quais você acredita serem os maiores desafios a serem enfrentados como mulher?
Quando falamos de RH, estamos falando de uma área focada em desenvolver práticas e políticas que impactam diretamente funcionários e funcionárias de uma empresa, contudo essas práticas só terão efetividade se as lideranças seniores da empresa se engajarem e se tornarem embaixadoras dessas ações, dando o exemplo a ser seguido. Ao falar de liderança sênior, começo pela pessoa que é CEO. Aqui no Nubank sempre foi assim e, um dos nossos valores é ter times fortes e diversos para que as lideranças possam engajá-los. Um exemplo prático disso é que todos os C-Levels, pessoas que reportam diretamente ao David e ao Youssef, são "sponsors" (patrocinadores) de um grupo de afinidade.
Qual a importância de se pensar em representação feminina estando na área de RH, linha de frente da contratação e capacitação da empresa que é composta por mais de 8 mil funcionários?
A área de RH do Nubank atua como propulsora do nosso foco em promover o melhor serviço e os melhores produtos para os nossos clientes, sendo um dos alicerces internos para garantir que vamos conseguir fazer essas entregas. Quando pensamos nos nossos clientes, essas pessoas são diversas, e, assim também devem ser os nossos times. Por isso, pensar na representação feminina é pensar em oferecer o melhor para os clientes, já que implica idealizar processos bem estruturados e que evitem qualquer tipo de viés. Isso é importante para fortalecer o ambiente de trabalho e permitir com que as pessoas possam ser quem elas são, para poderem se sentir incluídas e contribuir com todo o seu potencial.
O Nubank fechou 2022 como a 5ª maior instituição financeira em número de clientes do Brasil. Desde o dia 1 da empresa, colocamos os clientes no centro de tudo o que fazemos, o que inclui pensar nesse assunto. Do desenvolvimento de nossos produtos à representatividade das pessoas dentro da companhia, tudo é reflexo da forma como tratamos os nossos clientes e como queremos entregar sempre os melhores resultados a eles.
Quais você diria que são os principais impactos causados por um ambiente que tem uma gestão feminina representativa? E quais os impactos causados pela falta de uma gestão feminina representativa?
Uma gestão mais diversa, promove um ambiente mais colaborativo e criativo. Se você tem uma gestão que é igual, pensa igual, vai aos mesmos lugares, etc., a chance de debates de ideias que são essenciais para a inovação é muito baixa. Ou seja, quanto mais homogênea é uma gestão, maior a tendência das pessoas não se desafiarem, porque elas serão muito parecidas. Consequentemente, maior a chance de uma empresa estagnar.
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Quais as principais iniciativas tomadas pela Nubank tanto para incluir novas colaboradoras no ambiente de trabalho quanto para qualificar e capacitar mulheres aos cargos de liderança?
No último ano, fizemos uma série de ações para promover, qualificar e capacitar a participação das mulheres dentro da companhia. Para citar as mais recentes: tivemos a Hack Her Way, iniciativa com foco na contratação de mulheres em Segurança da Informação, a partir de um processo seletivo. A etapa final consistiu em uma conversa com profissionais e lideranças do Nubank, para debater sobre carreira, expectativas e outros aprofundamentos técnicos.
Outra iniciativa que temos orgulho de destacar foi o anúncio da nossa licença parentalidade de 120 dias, que pode ser dividida em dois períodos, e é válida para todos os tipos de família. Essa foi apenas mais uma medida tomada pensando no melhor para nossas colaboradoras, levando em conta as diferentes vivências das mulheres da companhia. Além disso, contamos com mentorias para as mulheres, que já atingiram centenas de colaboradoras, pois acreditamos que a troca de experiência entre profissionais em diferentes realidades é o que possibilita o crescimento e a geração de mais oportunidades.
Como futura mãe, como você enxerga a importância de se abordar a gravidez e a licença maternidade no ambiente corporativo?
Em 2022, instituímos a extensão do benefício de licença parentalidade para 120 dias para todos os gêneros e núcleos familiares. O Nubank entende que a chegada de um filho, independentemente da maneira como essa família foi constituída, é um momento único e fundamental para que todos estejam presentes e dedicados.
Hoje eu sou gestante, já no final da minha gestação, e está sendo um aprendizado incrível viver esse momento no Nubank. Foi um momento de me questionar muito, sobre vários temas e eu me senti muito confortável conversando com a minha gestora — Suzana Kubric, que também é mãe. Isso é essencial no ambiente de trabalho para que as pessoas possam entregar o seu melhor. E na minha perspectiva, reforça os pontos que eu trouxe anteriormente: ter uma liderança diversa é essencial. Imagina se na minha liderança não tivesse nenhuma figura parental e/ou feminina? Essas trocas são muito ricas e é o que faz uma empresa mais produtiva.
Quais você diria que são as melhores formas de promover a discussão e a importância da diversidade de gênero para o público masculino?
Eu penso que a melhor forma de promovermos reflexões e mudanças é trazendo dados para a discussão. É importante que as pessoas entendam que diversidade e inclusão é um tópico que tem impacto direto nos resultados das empresas, não é um tema a ser discutido apenas em opiniões e conversas vagas baseadas em experiências individuais. É importante ter especialistas que saibam coletar dados, analisá-los e propor soluções, que vão variar de contexto para contexto.
Você acredita que a empresa tem uma boa representatividade feminina? Quais números têm hoje e quais pretendem alcançar a médio e longo prazo?
Desde o início, o Nubank questiona o status quo para desburocratizar a forma como as pessoas têm acesso ao mundo financeiro e quebrar o tabu sobre como lidar com dinheiro. Essa quebra de paradigmas está em todas as esferas do nosso dia a dia: atualmente, as mulheres representam 46% da população total da empresa e 45% estão em cargos de liderança.
Tenho orgulho de fazer parte de uma empresa como o Nubank, que prioriza a importância da diversidade em todos os cargos e times. Até 2025, queremos que todos os cargos ocupados por mulheres — inclusive em cargos de liderança — cheguem a 50%. Aqui nós acreditamos que equipes fortes e diversas permitem um maior repertório de conhecimento que gera resultados diretos, como os já mencionados aumento da criatividade e inovação.
Gostou do material? Confira o que as lideranças femininas do mercado tech tem a dizer sobre o assunto!
