As empresas estão preparadas para contratar ou garantir a permanência de profissionais transexuais em seu quadro de pessoas colaboradoras? Para 88% das pessoas trans, não. Isso foi o que mostrou um relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A mesma pesquisa mostrou que 20% das pessoas transexuais do Brasil estão fora do mercado de trabalho.
Segundo o artigo 23º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego”. No entanto, como podemos ver, a realidade é outra. A inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho é um enorme desafio, já que ainda há pouco conhecimento e políticas efetivas para que isso se concretize.
Neste artigo, vamos entender esses desafios, assim como maneiras para contorná-los e, assim, ter uma equipe mais diversa.
Principais desafios na inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho
Ainda que diversidade e inclusão sejam um tema cada vez mais comum nas empresas, a realidade ainda se mostra longe do ideal quando o assunto é inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho. Abaixo, evidenciamos alguns dos principais desafios que essas pessoas enfrentam ao buscarem um emprego formal.
Falta de informações nas empresas e pessoas recrutadoras
A falta de conhecimento é um fator extremamente preocupante quando o assunto é o preconceito. Sendo assim, não buscar informações sobre o contexto e as vivências de pessoas trans e travestis se mostra um enorme desafio para a contratação desse público nas empresas. Nesse sentido, pouco conhecimento sobre essa realidade pode levar a conclusões e ações que não necessariamente contribuirão para a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho.
Poucas vagas destinadas a pessoas trans
Existem poucas vagas que são exclusivamente destinadas a pessoas trans. Os motivos para isso incluem o preconceito em si, mentalidade e cultura ultrapassadas que não vêem nas pessoas trans o potencial que têm, assim como a falta de preparação das empresas para lidarem com essa realidade. Não à toa, uma pesquisa feita pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no estado de São Paulo, identificou que somente 13,9% das mulheres trans e travestis tinham um emprego formal em 2020, enquanto 59,4% dos homens trans ocupavam esses tipos de cargos.
Réguas extremamente altas
Segundo a Antra, em torno de 70% da população trans e travesti do Brasil não tiveram a oportunidade de concluir o Ensino Médio. Os fatores que colaboram para isso são vários, sendo os principais deles o preconceito e a violência sofridos por essas pessoas nos ambientes de ensino. Nesse sentido, vagas que pedem altos níveis de qualificação são verdadeiros desafios para as pessoas trans, que grande parte das vezes não conseguem atingir tais exigências.
Falta de políticas de diversidade
A tendência de adoção de políticas de diversidade nas empresas pode, em alguns casos, até existir. No entanto, nem sempre são suficientes. Isso porque, mesmo que haja vagas destinadas para esse público, como mencionamos, a régua para admissão pode ser extremamente alta, o que prejudica a aprovação dessas pessoas. Além disso, ainda que sejam contratadas, muitas vezes não há um processo de conscientização e educação na empresa. Fatores como pronome de tratamento, nome social e banheiros voltados para pessoas cisgêneros ainda são grandes desafios para a real inclusão de pessoas trans e travestis.
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Como contornar os desafios da contratação de pessoas trans
Na contramão do preconceito e da exclusão social, existem algumas iniciativas que podem ser adotadas pelas empresas para garantir maior inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho, conforme podemos ver a seguir.
Maior conscientização e estudo sobre o tema
A maior empregabilidade de pessoas trans e travestis está ligada à diminuição do preconceito e essa, por sua vez, ao conhecimento sobre o tema. Dessa forma, a inclusão depende de uma maior conscientização das equipes de Recrutamento e Seleção sobre como são as diferentes vivências das pessoas trans, a fim de entenderem sua realidade e implementarem políticas e processos seletivos mais adequados também ao nível de escolaridade.
Promoção de cursos de capacitação e incentivo ao desenvolvimento
Por falar em nível de escolaridade, como mencionamos, comumente a régua de aprovação de pessoas trans e travestis em empresas é muito alta, considerando-se a falta de oportunidades de estudos durante a vida. Por isso, para contornar esse desafio e incluir e recrutar cada vez mais pessoas trans nas empresas, é fundamental investir em cursos de capacitação. Assim, é possível que não deixem de ser selecionadas nas empresas e, ao contrário disso, tenham a oportunidade de contratação e desenvolvimento dentro das próprias organizações.
Inserção em plataformas e programas de empregabilidade de pessoas trans
Existem plataformas como a Transempregos que são exclusivamente voltadas para a conexão entre empresas e pessoas trans e travestis, fomentando equipes mais diversas nas organizações. Com esse tipo de ferramenta, é possível ter acesso a currículos de pessoas trans, assim como a conteúdos exclusivos e educativos sobre o tema. Pesquisar e investir nesse tipo de plataforma é uma maneira de ter ações ainda mais direcionadas para ter um quadro de pessoas colaboradoras mais diverso.
Preparação da empresa para receber pessoas trans e travestis
O primeiro passo para ter uma empresa mais diversa é a contratação de pessoas diversas, é claro. Porém, conforme mencionado, é preciso também preparar o ambiente para recebê-las, no sentido de garantir que tenham uma boa experiência no ambiente de trabalho e que sejam respeitadas como qualquer outra pessoa colaboradora é. Por isso, implementar rodas de conversa, palestras e até mesmo cursos explicando transexualidade, dentre seus conceitos e realidades, tendo como tema principal o respeito, pode ser o caminho certo para, mais do que diversa, sua empresa seja realmente inclusiva.
Mesmo que a passos lentos, o mercado está se desenvolvendo, mas precisa (o quanto antes) acelerar sua caminhada rumo à inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho. Ter essas pessoas na equipe pode contribuir e muito para o engajamento, a satisfação e a inovação dentro da organização.
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