Você já ouviu falar em microgerenciamento? Muitas vezes, a empresa pode considerar esse um modo de liderança positivo. No entanto, é um tipo de gestão que pode resultar em mais danos do que ganhos, uma vez que desmotiva as pessoas do time. De acordo com uma pesquisa feita pela Gallup, o primeiro passo a ser desenvolvido pelos gestores não é aprender como motivar as pessoas, mas sim como deixar de desmotivar.
Pensando nisso, elaboramos este material para que você entenda o que é o microgerenciamento, quais são os seus impactos para o time e para a empresa, além de conferir dicas de como evitar essa prática. Continue a leitura e saiba mais!
O que é o microgerenciamento?
No dia a dia de trabalho, há muitas maneiras de liderar uma equipe. Entre os estilos de lideranças mais comuns, destacamos:
- líder visionário: liderança mais inspiradora, na qual a gestão dita onde deve chegar, mas sem mencionar o caminho exato a ser percorrido;
- líder coaching: conecta os objetivos pessoais de cada liderado e liderada aos objetivos da organização;
- líder affiliative: promove a harmonia na equipe e enfatiza conexões emocionais;
- líder democrata: se concentra na colaboração entre as pessoas.
É importante mencionar que é possível a existência de características de diferentes tipos de liderança em um mesmo líder.
Já o microgerenciamento é um tipo de gestão em que as lideranças têm um excessivo controle pela equipe. Normalmente, são as lideranças comandantes. Elas usam de uma abordagem mais autocrática, na qual demonstram poder a todo instante.
Nesse sentido, muitas vezes pode haver a dificuldade em se afastar de pequenos detalhes, o que dificulta uma visão mais estratégica como líder. Esse tipo de situação gera desgaste tanto para quem está na gestão quanto para liderados e lideradas.
Algumas atitudes são comuns por parte de líderes micro gerenciadores, como a necessidade de entender todas as demandas da pessoa liderada no dia a dia, a falta de autonomia oferecida aos colaboradores, além de impedir que as pessoas participem de outros projetos sem que haja uma autorização prévia.
Quais são as causas do microgerenciamento?
O microgerenciamento pode ter influências tanto pessoais quanto organizacionais. Quando é pessoal, trata-se de uma atitude própria daquele líder em específico. Caso essa prática não combine com a organização, é um sinal de que houve contratação ou promoção equivocada, algo que pode até mesmo afetar a cultura do negócio.
Lembre-se: um dos fatores mais diluidores da cultura ocorre quando pessoas que não representam os valores da empresa são promovidas ou mantidas em seus cargos. Consequentemente, membros do negócio como um todo percebem essa discrepância — e passam a ter menos incentivos para agirem conforme os valores.
Do contrário, o microgerenciamento pode ser organizacional. Ou seja, faz parte da política da empresa e é tolerado ou até mesmo incentivado pela alta gestão. Em ambos os casos, existe o principal fator que é reconhecidamente o causador do microgerenciamento: a falta de confiança das lideranças na equipe.
Essa confiança é fundamental para a satisfação no trabalho e para a autonomia dos colaboradores. Por isso, a capacidade de delegar tarefas é uma das skills que competem a um bom líder, pois líderes bem treinados devem ser capazes de atribuir responsabilidades compatíveis com a função dos liderados, confiando nas entregas que vão ser realizadas por eles.
Em ambientes de microgerenciamento, as lideranças não confiam na qualidade de entrega das equipes e, por isso, controlam cada passo dos colaboradores. Esse tipo de comportamento centraliza as tomadas de decisão na figura do líder e transparece para os colaboradores a impressão de que eles não fazem parte dos resultados do negócio.
Quais são os principais problemas ocasionados pelo microgerenciamento?
A seguir, apresentaremos alguns dos principais problemas ocasionados pelo microgerenciamento. Confira!
Falta de autonomia aos profissionais
De acordo com uma pesquisa realizada pela Page Talent, 58% dos profissionais em todo o país têm mais facilidade para resolver as suas demandas quando são mais independentes. Além disso, segundo um estudo feito pela Felipelli, 75% das pessoas demonstram atuar em prol dos interesses coletivos para trabalhar em equipe, algo facilitado quando não há microgerenciamento na gestão.
Entre os principais ganhos da autonomia no trabalho, destacamos:
- aumenta o sentimento de pertencimento por parte da equipe, tão importante para trazer ideias inovadoras a todo o time;
- aumenta a responsabilidade do time como um todo para as suas demandas;
- melhora os resultados da empresa, por meio de maior produtividade, por exemplo;
- contribui para o desenvolvimento de novas habilidades; entre outros.
Burocratização de processos
Quando uma equipe precisa passar pelo crivo e pela aprovação de seu líder em cada demanda e atividade, por menor que seja, são grandes as chances de haver um problema de burocratização de processos na empresa.
Dessa forma, é maior a lentidão na criação e na execução de tarefas, o que pode impactar não somente a pessoa colaboradora ou a equipe em questão, como toda a empresa.
Pense, por exemplo, nos casos em que as tarefas de um time influenciam nas de outro. Nessa situação, o microgerenciamento passa a ser um dos grandes responsáveis pelo atraso de entregas dessa “esteira de produção”, o que compromete o trabalho de outras equipes desnecessariamente.
Você também pode gostar destes conteúdos:
👉 Autonomia no trabalho: qual a importância e como promovê-la?
👉 Como estimular a criatividade da equipe?
👉 Autoliderança: entenda o que é e saiba como desenvolver na equipe
Limitação da criatividade
O microgerenciamento também limita a criatividade da equipe ao inviabilizar a participação dos colaboradores em novos projetos, especialmente quando eles não estão centrados nas demandas do time.
Além disso, isso também é verdade considerando os casos em que novos processos pensados pelas pessoas colaboradoras constantemente encontram entraves na burocracia de aprovação da liderança.
Desse modo, esse comportamento micro gerenciador contribui para que as pessoas estejam mais desmotivadas e, naturalmente, comprometem o dia a dia e a satisfação no trabalho.
Prejuízos ao clima organizacional
O clima organizacional de seu negócio pode ser prejudicado devido ao microgerenciamento. Trata-se da percepção que as pessoas da empresa têm em relação aos processos, políticas e práticas do negócio. É um construto, ou seja, conceito criado a partir de outros conceitos. Afinal, é o conjunto das percepções das pessoas sobre:
- remuneração e benefícios;
- justiça em relação à méritos e promoções;
- trabalhos em times;
- oportunidades de crescimento profissional;
- liderança direta.
Lideranças micro gerenciadoras, por trazer os riscos já apresentados, tendem a desmotivar seus liderados e lideradas, influenciando no clima como um todo.
Quais são os sinais de microgerenciamento?
Saber se as lideranças da empresa adotam o microgerenciamento é o primeiro passo antes de implementar boas práticas para evitá-lo. Saiba como identificar se esse tipo de liderança está sendo adotado na organização.
Acompanhamento excessivo de demandas e projetos
Líderes que querem saber a todo momento onde as pessoas do time estão e o que estão fazendo podem ser um sinal de controle excessivo e microgerenciamento na organização. Isso pode ser percebido:
- em troca de e-mails que sempre têm a liderança copiada, mesmo quando não existe uma justificativa plausível para isso. Ainda assim, é feito mediante orientação nesse sentido;
- na necessidade de aprovação final de toda e qualquer demanda finalizada pela pessoa colaboradora;
- na cobrança pela participação de reuniões que não necessariamente precisam contar com a presença da liderança.
Além de comprometer o clima organizacional, esse comportamento é contraprodutivo e afeta o planejamento, pois as lideranças acabam despendendo muito tempo em tarefas operacionais.
Falta de autonomia para a equipe
Segundo o autor norte-americano Daniel Pink, a autonomia e o senso de propósito são fatores decisivos para a motivação das pessoas no trabalho. Líderes que controlam excessivamente a equipe inviabilizam a autonomia dos liderados e comprometem o bem-estar deles no trabalho.
Por isso, comportamentos que centralizam todas as tomadas de decisões, que dificultam a participação das pessoas do time em outros projetos que não sejam da área e que travam iniciativas na equipe são características comuns a esse tipo de liderança e que precisam ser monitoradas com atenção.
Nesse sentido, é importante atentar para situações que podem indicar microgerenciamento, como:
- necessidade da aprovação da liderança para a participação de membros da equipe em novos projetos de outras áreas;
- orientação para que toda e qualquer nova demanda passe pelo crivo da liderança, ainda que rotineira;
- novas iniciativas e processos sugeridos pelas pessoas colaboradoras, que facilitarão o próprio trabalho, precisam passar pela aprovação da liderança;
- comportamento constante de “colocar a mão na massa”, realizando tarefas mais técnicas e operacionais do que de gestão.
Como identificar e evitar o microgerenciamento?
Agora que você já sabe quais são os sinais do microgerenciamento, chegou o momento de entendermos como identificá-lo de fato e quais são os 4 passos para evitá-lo. Confira!
1. Realize pesquisa de clima organizacional
O primeiro passo para evitar o microgerenciamento é identificar sua existência. Para isso, é importante contar com ferramentas como a pesquisa de clima, pois ela é capaz de coletar a percepção dos colaboradores sobre processos, práticas e políticas da empresa.
Dessa forma, seus resultados mostram como está o clima organizacional e apresentam um diagnóstico de diversos fatores relacionados à organização, incluindo a percepção sobre autonomia no trabalho, reconhecimento e lideranças.
Por isso, a pesquisa de clima é uma ótima maneira de identificar práticas de microgerenciamento entre as lideranças de uma empresa. Por meio desse diagnóstico é possível definir planos de ação e boas práticas para fomentar a confiança e a autonomia na equipe e reduzir o controle excessivo dos colaboradores.
A partir disso, também é possível traçar treinamentos e ações de desenvolvimento para que os gestores exerçam uma liderança mais inspiradora e assertiva com as pessoas do time.
2. Alinhe a contratação à cultura da empresa
Outro passo para evitar o microgerenciamento é contratar profissionais com os quais a empresa possa confiar. Para isso, existe a necessidade de as lideranças trabalharem, em conjunto com o RH, qual é o melhor perfil para as vagas em aberto. Além disso, a área de recrutamento e seleção buscará por funcionários que estejam adequados à cultura do negócio.
Para isso, é preciso que a contratação considere o fit cultural. Quando há essa preocupação, naturalmente vão ser selecionados talentos que são capazes de reforçar comportamentos que contribuem para a estratégia do negócio — evitando a necessidade de microgerenciar o time.
Você também pode gostar destes conteúdos:
👉 Pesquisa de Clima Organizacional: o que é e a sua importância
👉 Conheça o eNPS e aprenda a medir o grau de satisfação dos colaboradores
👉 Software de Pesquisa de Clima: confira 6 vantagens de adotá-lo!
3. Dê e incentive feedbacks às pessoas da equipe
Há também a possibilidade de orientar os profissionais do seu time por meio de feedbacks. Na Qulture, gostamos de fazer uma analogia entre o GPS e o mapa de papel. Ambos mostram o destino, mas apenas o GPS vai orientar ao longo da trajetória sobre mudanças de percurso necessárias para que chegue mais facilmente no local desejado.
É o que ocorre com os feedbacks: a partir de uma percepção passada ao colaborador — seja positiva, seja negativa —, as lideranças têm a possibilidade de orientar sobre o melhor caminho a seguir rumo a um objetivo claro.
Oferecer esse retorno em vez de microgerenciar contribuirá de forma significativa para o desenvolvimento dos profissionais e da empresa. Afinal, as chances de desviar a estratégia do negócio da rota planejada diminuem consideravelmente.
A cultura de feedback contribui também para que as pessoas colaboradoras possam oferecer umas às outras suas percepções sobre os mais variados pontos, permitindo que essa prática se torne natural e contínua.
4. Faça reuniões de one-on-one
Reuniões one-on-one são reuniões dos líderes com as pessoas lideradas para debaterem alguns dos desafios enfrentados pelo profissional, que traz muitos ganhos para essa relação — além de evitar o microgerenciamento. A orientação é que elas sejam guiadas e pautadas pela própria pessoa liderada.
Esses momentos exclusivos transmitem ao liderado a sensação de que alguém se preocupa com ele no nível pessoal. Também garantem que ele entenda que a organização está atenta ao seu desenvolvimento e à sua carreira, contribuindo para que se sinta ouvido no ambiente profissional.
Além disso, melhora o fluxo de informações na empresa de baixo para cima, influenciando diretamente para que as informações cheguem às lideranças sem nenhum tipo de cobrança e proporcionando decisões mais rápidas e proativas. Assim, aumenta o engajamento da equipe, podendo reduzir até mesmo a taxa de turnover.
Mas como elaborar uma reunião de one-on-one? Entre as dicas para um encontro eficiente, destacamos as principais:
- faça reuniões de one-on-one regulares, evitando desmarcá-las;
- oriente o colaborador a elaborar uma pauta para a reunião;
- saia desse encontro com planos de ação bem definidos;
- identifique as ambições profissionais do colaborador e use estratégias para incentivá-las.
Existem situações em que o microgerenciamento pode ser aplicado?
Como vimos, o microgerenciamento pode prejudicar bastante a rotina e os resultados de uma equipe e até mesmo de uma empresa como um todo. No entanto, existem, sim, situações em que ele pode ser bem-vindo.
Isso acontece, por exemplo, no caso de acompanhamento de estagiários e aprendizes na empresa que, por estarem em início de carreira, podem demandar uma atenção maior e mais próxima. Isso garante não apenas que o trabalho seja realizado de forma adequada, como também incentiva o desenvolvimento dessas pessoas, que têm muito a aprender com suas lideranças.
Além disso, outra situação em que o microgerenciamento é aceitável consiste no momento do onboarding, ou seja, nos primeiros dias de trabalho de uma nova pessoa colaboradora na empresa. Como os processos, as demandas e as atividades são novidade para ela, é fundamental esse acompanhamento para garantir que se habitue o mais rapidamente possível à nova rotina e, assim, ganhe autonomia.
Neste material, você pôde entender o que é o microgerenciamento, qual é o impacto que ele tem nas empresas, além de conferir um passo a passo sobre como evitá-lo. É essencial que as lideranças estejam próximas das pessoas lideradas, mas sem trazer a percepção de cobrança a todo instante, além de conferir autonomia para o time buscar por inovação e conseguir obter resultados mais atrativos.
O que achou deste conteúdo? Se deseja ter acesso a mais novidades e outras dicas que publicamos, assine nossa newsletter e acompanhe de perto!